terça-feira, 3 de março de 2015

CAPÍTULO XII

CAPÍTULO XII

   Enquanto isso, o único desejo do Rei Suddhodana era rever seu filho, o Buddha. Ele ouvira dizer que o Abençoado estava de visita em Rajagaha e enviou mensageiros para pedir que voltasse à casa paterna. Entretanto, os mensageiros não retornavam com a resposta. Foi quando o Rei enviou um amigo de infância do Buddha, Kaludayi, para ir ter com o Sublime. Kaludayi disse ao Rei : "Se o senhor permitir que eu me tome um monge, eu vou". O Rei deu a permissão à Kaludayi, e ele se juntou à Ordem. Kaludayi deu o recado do Rei ao Buddha que, dessa forma, partiu com Seus discípulos em direção de Kapilavatthu. Muitas pessoas vieram vê-Lo ao longo da estrada, bem como todos os Seus parentes. O Buddha usava um manto cor de açafrão e Seu único pertence além disto era uma tigela de comida.  O Buddha entrou pela manhã na cidade, mendigando Seu alimento . Ao ver isto, o Rei ficou envergonhado: como Ele, sangue de seu sangue real, pode mendigar a comida? "Porque mendigas a comida, insultando-me na frente do povo? Você sabe que posso providenciar toda comida que quiser! Por que insultas a linhagem dos nobres?" - ralhava o Rei. Buddha respondeu-lhe calmamente: "É costume da minha linhagem vestir roupas simples e mendigar por comida, meu Pai". O Rei retrucou, dizendo: "Tua linhagem é a dos nobres !" O Buddha respondeu: "Não me refiro às linhagens que conheces, mas à linhagem dos Buddhas passados que, como Eu, viveram na pobreza". O Buddha explicou ao Rei as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo. Ouvindo-O, o Rei também atingiu o primeiro estágio de santidade. 
O Rei estava muito feliz, tendo experimentado o verdadeiro Dhamma. Então o Rei convidou  o Buddha e Seus discípulos para visitar o palácio. Todos os membros da família real receberam-nos com muita alegria e honrarias, exceto Yasodhara, que permanecia no seu quarto, pensando : "Se Ele tiver Compaixão, virá me ver!" Ela ainda O amava muito e havia sido fiel todo este tempo. Só pelo que ouvira outros contar, ela praticou mortificações, à mesma época que o Buddha era ainda um asceta. 
Buddha não vira Yasodhara na recepção real. Perguntou aonde ela estava e o Rei informou que ela se enclausurara no seu quarto. O Buddha foi vê-la, juntamente com Sariputta e Moggallana. Ela estava muito enfraquecida, e quando viu o Buddha, levantou-se, mas caiu a Seus pés, chorando e contando sua conduta durante a ausência daquele que fora seu marido. Este falou docemente, exaltando a conduta da Princesa, e contando-lhe como fora exemplar em vidas passadas, onde, por seus atos meritórios, nascera sempre ao lado daquele que hoje era o Buddha. Ele explicou-lhe os nascimentos sucessivos, ressaltando suas virtudes, como pureza, delicadeza e dedicação. Ouvindo ao Buddha, ela se encheu de alegria e paz. 

Kapilavatthu, no Reino dos Sakyas, tornou-se o principal bastião do Budismo ao norte da Índia antiga (hoje, terras do Nepal). Vários Príncipes importantes foram ordenados, inclusive o próprio filho do Buddha, Rahula. O primo-irmão do Buddha, Devadatta, também foi ordenado, juntamente com os Príncipes Sakyas Anurudha, Bhagu, Bhaddyia , Kìmbila e Ananda. Ananda, também um primo-irmão do Buddha, tomou-se proeminente na vida do Buddha. Ele era naturalmente uma pessoa gentil e atenciosa, de forma que estas qualidades fizeram de Ananda o atendente-chefe do Buddha. A ordenação dos Príncipes Sakyas foi cerimoniosamente realizada em Kapilavatthu. Este evento histórico foi considerado pelas massas como um grande triunfo da causa do Budismo, mas uma grande perda para a família real. Mas eles ainda tinham esperança no Príncipe Rahula, filho do Príncipe Siddhattha. 

A Princesa Yasodhara cuidava da criança com muito zelo. Certo dia, ela tomou Rahula pela mão e disse para ele ir pedir ao Buddha o quinhão de sua herança. Era a primeira vez que ele via seu Pai, de quem se aproximou com muito amor e respeito. O Buddha disse-lhe para seguir Seus passos e obter a nobre herança do Budado. Mais tarde, o pequeno Rahula foi ordenado monge. a pedido de Sariputta. Ele era obediente, pontual e gentil. A Princesa Yasodhara também tomou-se uma monja, tempos depois, quando o Buddha iniciou a Ordem das monjas. A ala feminina da Ordem só foi possível devido à intervenção da Rainha Mahapajapati, Mãe adotiva de Buddha. Vemos assim como muitos membros da família real foram ordenados, buscando finalizar seus sofrimentos neste Samsara (roda de renascimentos vida-e-morte); ao passo que o Rei Sudhodana morreu sem ver a continuidade de sua linhagem. 

O Senhor Buddha foi avisado da doença de Seu Pai e vai ter com ele. Vai vê-lo para servir como médico e assistente, e pregar-lhe a Doutrina. Desta vez, o Rei atinge o 3° estágio de santidade, ouvindo seu filho. O Buddha havia atendido ao chamado de Seu Pai, não só como um filho, mas como Buddha, pois era imensa Sua Compaixão. 

Rahula era o monge mais jovem da Sangha. Ele tinha interesse em aprender. Um dia, o Sublime pediu a Rahula para trazer água e lavar Seus pés. Ele o fez com muito cuidado. Como o Buddha queria ensiná-lo, sentou-se ao lado e pediu para Rahula olhar para a água que acabara de usar. Ele olhou e viu a água suja. Então o Buddha perguntou: "Você acha que esta água está pura ou própria para beber?" O pequeno Rahula disse: "A água está impura e suja , e assim não está boa para beber". Tomando este exemplo, o Buddha explicou a Rahula que as pessoas com pensamentos impuros tomam-se sujas da mesma forma que a água. Se a pessoa usa a palavra falsa e impura, sua mente está suja e impura. O Senhor jogou então a água fora, esvaziando o pote e perguntou : "Rahula, o pote vazio é apropriado para guardar água pura ou de beber?" O pequeno Rahula respondeu: "O pote está sujo, logo não é apropriado para guardar água para beber nele". O Senhor continuou explicando que as pessoas que mentem não conseguem observar o Caminho. Assim o Buddha passou o Ensinamento de forma que a criança pudesse entender. De tempos em tempos, o Buddha ensinou coisas parecidas a várias pessoas, em diferentes lugares. 

Certa vez, o Buddha encontrou um grupo de brâmanes Kalamas, em Kemaputta, e soube que eles usavam um linguajar pesado, com palavras más, abusivas e duras. O Buddha disse-lhes: "Supondo, ó brâmanes, que algo é rejeitado após haver sido presenteado por alguém. Para quem vai, com quem fica o presente?" Os brâmanes responderam que, com certeza, pertencia ao próprio doador. Da mesma forma, aquele que usa da Palavra incorreta, recolhe os maus frutos que trazem a infelicidade na vida. Ouvindo isso, o pequeno Rahula envergonhou-se por ter mentido antes, e pediu o perdão. O Sublime treinou-o através de lições práticas, de forma que ele fosse sempre obediente e humilde. Rahula sempre ouvia a todos, de forma que era amado por todos. Ele pegou um punhado de areia e disse: "Possa eu receber tanta instrução de meus mestres quanto os grãos de areia em minhas mãos!". Ele se destacou entre os discípulos por receber instrução com atenção. Ele seguiu o Reto Caminho e logrou tomar-se mais tarde também um Arahant (Iluminado).

  
  

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